domingo, 29 de maio de 2011

Outros Tempos: Outras Correntezas


NO ALTO DO CRUZEIRÃO, OS LOBISOMENS AINDA UIVAM!

Boa Nova – Rio de Chico Mendonça, Outros Tempos: Encantamentos Outros! 

“Lavar Roupa Todo Dia – Que Alegria” – Dona Maria, Dona Flor, Dona Luzia, Dona Argemira, Dona Augusta, Dona Lúcia, Dona Sebastiana, Dona Carolina, Dona Joana, Dona Germina, Dona Ana... 

      É Manhã de Primavera, e a Correnteza do Rio Compõe Nova e Definitiva Canção!
O Sabão ainda não é em pó, e é a Pedra de Anil que deixa Alvíssimo o Lençol, e o Altíssimo tece uma Nova Manhã para as Lavadeiras Boanovenses!
Entre um “causo” e outro, o tempo passa tão apressadamente, que a gente nem sente!
Causos” de homens que, no Alto do Cruzeirão, viram “lobisomens” em noites de lua cheia e da Mãe D’água que, com seu Canto Mavioso, seduz e leva para "outras águas" homens na flor da idade!

- Comadre Maria, você trouxe uma cachacinha temperada?
- Oh, "tá" aqui, mulher!
- Comadre Joana, quem você acha que ganha as eleições este ano: Seu Menezes ou seu Érico?
- Sei não, comadre – a Caatinga “tá” em peso com seu Érico, mas dizem que a Mata inteira vota em Seu Menezes e dizem também que desta vez, a “Sede” está em cima do muro!
- Comadre, eu acho que desta vez, o “pau de resposta” vem mesmo é das urnas do “Areião” - dizem que lá, só dá Seu Menezes!
- Que nada, Comadre Maria – o “pau de resposta” vem é do Valentim – e lá, só dá seu Érico!
- Sendo Assim, só nos resta esperar! Traz mais um gole dessa cachaça temperada, comadre Mariquinha!
- Também tem farofa de carne assada que comadre Geralda trouxe!
- Eu só "tô" aqui de “bituca” - ouvindo “ocês falar” sobre as eleições! Todo mundo só fala em Seu Menezes e Seu Érico, mas se esquece que Compadre Zé Balbino vem “correndo por fora” – a Piabanha “tá” em peso com ele, gente!
- Larga de bestagem! Logo não "tá" vendo, Comadre Tonha, que a Piabanha, com “quatro gatos pingados” de eleitores, não elege nem um vereador, quanto mais o Prefeito! Desta vez, Zé Balbino, que é uma boa pessoa, eu sei, é carta fora do baralho! Um homem “servidor”, mas desta vez, ele dançou! Pra mim, vai dar Seu Menezes! Domingo é a eleição e terça-feira, a gente já deve saber quem é “Jacu Baleado!”

- Mudando de pau pra cacete! Comadre Fulô, cadê Compadre Bio? Anda Sumido!
- Bio, agora, ninguém bota mais o olho, não! É dia e noite "socado" no Cabaré de Ritão, na “tábua” do jogo: Ele, Zé Dezenove e Epaminondas! Mas deixa estar! No dia que eu acordar com a “pá virada”, invado aquele cabaré e aí, ele vai saber com quantos espinhos se faz uma Flor!
- É isso mesmo, comadre! A gente tem mais é que ficar de olho nos nossos homens, porque essas “meninas” da Rua do Urubu não estão de brincadeira! Ontem mesmo, eu vi a filha de Ritão, a tal de Rosinha Beiço Doce, na venda de Bezinho – toda siligristida, metida num vestido tão curto que, quando abaixava, dava pra gente ver a calçola! Quero que Santa Luzia me cegue, seu eu estiver mentindo!
- Descarados são eles, Comadre Sebastiana, que deixam suas mulheres em casa e vão “chamegar” na Rua do Urubu – “ELAS” estão lá pra isso mesmo – é a “profissão” delas, ora bolas! Vai procurar “seus serviços” quem "tá precisado"!
- Comadre Raimunda, não acredito que você "tá" dando razão às sirigaitas! Meu Deus, se Padre Vicente souber que você "tá" assim tão liberal, é bem capaz dele não deixar mais você comungar, comadre!
- Não se trata de liberalismo, não, Comadre Sebastiana! O que a gente tem que fazer é aprender cuidar bem dos nossos homens: Fazer o chamego certo na hora certa, pois cada momento exige um chamegar diferente e se a gente fizer tudo direitinho, como manda o figurino, eles não vão buscar chamego em outro lugar! É assim que eu trato Pedro Margarido: Carinho certo na hora certa e rédea curta! Duvido que Pedro Margarido, sequer, sonha em botar o pé no Cabaré de Ritão! "Tá" mais fácil um boi voar!

“Lavar Roupa Todo Dia - Que Alegria” 

      E a correnteza do Rio parece também cantar, enquanto as lavadeiras estendem seus alvíssimos lençóis, sobre as pedras hiperaquecidas pelo Sol da Boa Nova! É hora de cantar os sambas de Dorival Caymmi – pois se Comadre Anália não quiser ir, eu vou só pro Rio de Chico Mendonça, que hoje já não é mais o Rio das Lavadeiras que Lavavam Roupa Todo Dia com Alegria... Hoje, não mais a Correnteza do Rio! Agora, a Máquina de Lavar e o Sabão em Pó já são velhas novidades! Os “causos” são contados na “Rede” – Hoje, o que corre é a Tecnologia da Informação, não mais a Correnteza do Rio! Boa Nova já é Brasil, é Mundo! Hoje, Boa Nova é “ponto com”. Muitos dos seus filhos já estão até no “estrangeiro”... O Tempo do candeeiro a querosene ficou mesmo pra trás! Mas é a doce lembrança dos “bons e velhos tempos” que faz a gente ser capaz de assimilar os tais Novos Tempos! Tempo Novo que, apesar dos tais progressos, faz rios e matas desaparecerem, engolidos por complexos de titânio e vidro, que agora habitam o inconsciente coletivo! Mas nem tudo está perdido, pois quanto mais rezamos, assombrações nos aparecem, graças a Deus! Vez por outra, em Noites de Lua Cheia, ainda se ouve o Uivar de Lobisomens no Alto do Cruzeirão! As Mães D´água?! -Ah, com essas ninguém pode, não! Mesmo em tempos de “tantas revoluções”, cheias de encantamento que são, Continuam Enfeitiçando os Homens nas Águas Claras de Rios Remanescentes!
Paulo Neuman - Inverno de 2009
Foto: Tela de Cândido Portinari (Lavadeiras - 1937)

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A obra Outros Tempos: Outras Correntezas de Paulo Neumam Farias Souza foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Brasil.